quinta-feira, 9 de março de 2017

Resenha: Daniel Sapeca e o Diamante Azul do Tepequém (Clotilho Filgueiras)

Ao se deparar em Roraima com o ainda restrito acervo de livros infantojuvenis regionais, Clotilho Filgueiras criou ‘Daniel Sapeca e o Diamante Azul do Tepequém’. Um tiro certeiro. A leitura é fácil e rápida. E o pequeno leitor, ao longo do texto, (re)conhece costumes, lendas, a culinária, riquezas naturais e o que a obra chama de folclore do Estado.

Lançado em 2012, o livro é o primeiro (e único publicado até agora) da série que leva o nome do protagonista, inspirado no seu homônimo, o filho do autor da obra.

Em Daniel Sapeca e o Diamante Azul do Tepequém, o personagem-título vai até a Serra do Tepequém, passando por aventuras diversas em rios, lavrados, lagos, etc., para encontrar um diamante e salvar o casarão de sua vovó Naná, que, por conta de um empréstimo, corre o risco de ser leiloado.

O leitor acompanha as aventuras desse herói mirim do lavrado pelo olhar do próprio narrador-personagem, neto da dona de um casarão de família tradicional de Boa Vista, garoto cuidado por uma velha índia macuxi (Angélica), que, após ser babá de três gerações, já é considerada da família.

Por essas e outras, a obra nos faz revisitar Monteiro Lobato e o Sítio do Pica-Pau Amarelo, em que vemos Pedrinho em Daniel Sapeca, Dona Benta em Vovó Naná, e Tia Nastácia em Angélica.

Ao longo da história, Daniel Sapeca recebe a ajuda da boiuna e de uma vaca, ambas falantes. Esta última teria ganhado vários troféus em feiras de exposição agropecuária em Boa Vista.

Além disso, o protagonista conhece um indiozinho que participa de um triátlon macuxi no Lago do Caracaranã para ganhar como prêmio uma bolsa de estudos em Brasília.

Varias lições permeiam a história: não se apropriar de coisas alheias, proteger a natureza, a importância de que os impostos sejam revertidos para o bem da coletividade. Ah, também é possível ler nas entrelinhas um sonho do coração de criança do autor: de ver a paz entre índios, fazendeiros e agricultores.

Aliás, o livro é repleto de personagens fantásticos (canaimé, boiuna, panela e vaca falantes), mas aqueles que mais parecem ser tão só a engenhosa criação da mente fértil do autor são os políticos que, na história, cumprem suas promessas.

Daniel Sapeca e o Diamante Azul do Tepequém tem tudo para ser a porta de entrada para crianças, de Roraima ou não, conhecerem a rica e ainda pouco conhecida explorada riqueza cultural da região.

FILGUEIRAS, Clotilho. Daniel Sapeca e o Diamante Azul do Tepequém. São Paulo: Biografia, 2012.

Leia também: 

Resenha: Rapadura é doce, mas não é mole (José Vilela)