terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Resenha: Rapadura é doce, mas não é mole (José Vilela)

Para inaugurar minha coluna de resenhas literárias (ou seja lá o que o for isso que farei daqui pra frente!), tchan tchanranran...: ‘Rapadura é doce, mas não é mole’, de José Vilela!

A obra infantojuvenil foi publicada pela primeira vez em Mato Grosso, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, em 1999. Esta resenha foi escrita com base na segunda edição do livro, que já está na terceira edição.



‘Rapadura...” é uma fábula que conta a história do Tamanduá-Bandeira e seus quatro genros: o Martim-Pescador, o Jacaré, o Carrapato e o Pica-Pau.

Uma história tão brasileira, escrita por um mato-grossense morador de Roraima, com um título/ditado popular que é a cara do nordeste, ambientada entre dois rios do Centro-Oeste, e com animais, inclusive o protagonista (Tamanduá-Bandeira), que são bem familiares para muitos de nós amazônidas.

Antes de começar a história, o escritor já nos ganha. Em ‘Palavras do Autor’, narra um fato que teria ocorrido com sua irmã: ao ser assaltada na rua, instintivamente, ela teria usado a bolsa como arma contra o ladrão de galinha, que desabou ‘de cata-cavaco no chão’. E o que tem isso? Dentro da bolsa, havia uma rapadura. Aliás, como diz Vilela, ‘Santa Rapadura’. Salvou mais uma vida! E o assaltante, se não sabia, aprendeu, da forma mais dolorosa possível, o porquê do ditado ‘rapadura é doce, mas não é mole’.

Vilela, a quem ainda não tive o prazer de conhecer pessoalmente, faz parecer fácil o exercício da escrita. Sua narrativa é fluida, como quem, com causos e mais causos antigos, impressiona os netos, sentados em roda, ao pôr do sol, na frente de casa. É como se ao ler, ouvíssemos a voz do narrador.

Jornalista que se fez escritor, de forma nem tão esporádica como o autor humildemente refere a si mesmo no livro, em ‘Rapadura...”, José Vilela metamorfoseia-se, diante do leitor, naquele avô que conta cada história do tempo em que os animais falavam e que deixa a meninada de olhos arregalados e ouvidos atentos para não perder nenhuma aventura de bichos que mais parecem gente.

Aliás, esse é um dos pontos altos do livro: o poder de construir os personagens (animais) demasiadamente humanos, com sentimentos, fraquezas, humor. É verdade que a figura de linguagem prosopopeia (ou personificação) é predominante em qualquer fábula, mas, em ‘Rapadura...”, Vilela passou da conta, está de parabéns, matou a pau, ou seja lá qual expressão você usa para dizer que alguém foi além da média.

Vamos à história: o Tamanduá-Bandeira quer medir força com seus genros e, a cada capítulo, se dá mal tentando repetir o feito de cada um deles: na pescaria, na preparação da fogueira, em descer de árvores e na colheita de mel.

Como toda fábula, no fim, o leitor é apresentado à moral da história (ainda que não esteja grafada no livro a expressão ‘moral história’) que você terá que ler para saber qual é (não serei inconveniente a dar spoilers aqui!).


Espero que se aventure em ‘Rapadura é doce, mas não é mole’ e, quem sabe, assim como eu, ficará louco de vontade de ler ‘O Guru da Floresta’, publicação mais recente do autor.

VILELA, José. Rapadura é doce, mas não é mole. 2. ed. Boa Vista: José Vilela de Moraes, 2016.


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