terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

A literatura de Roraima além das fronteiras da língua

Obras literárias de Roraima já ganharam versões em outros idiomas. Vamos falar de duas em especial. Se você souber de outras, cite-as nos comentários.

Os Bravos de Oixi
Gli eroi di Oixi, versão italiana de Os Bravos de Oixi: Índios em Luta pela Vida (Vozes, 1994), foi publicado em 1995. José Vilela assina a obra com o pseudônimo Vilela Montanha. 

Baseado em fatos reais, o livro conta a trágica história de uma comunidade dizimada pela ação violenta de não indígenas.

Entre outros livros, Vilela é autor também de Rapadura é Doce, Mas Não é Mole.

A Boca da Noite
De autoria de Cristino Wapichana, o livro literário mais premiado da história de Roraima foi traduzido para sueco e dinamarquês.

Com o título Nattens Mun, a versão em sueco de A Boca da Noite é a única obra brasileira entre os dez finalistas de 2017 do prêmio Peter Pan, concedido pelo IBBY (Conselho Internacional sobre Livros para Jovens), da Suécia, a um livro infantil ou juvenil de autor estrangeiro.


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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Literatura de cordel em Roraima

Tem cordel em Roraima? Tem sim, senhor!

No Brasil, a literatura de cordel é logo associada ao Nordeste. Mas no extremo Norte do País também é possível encontrar a arte de imprimir e vender histórias populares penduradas em cordéis, manifestação de origem portuguesa renascentista.

Xarute (centro), com Mestre Afonso e Cláudio Lavor, durante produção
do documentário Mestres dos Nossos Saberes. Foto: Lucy Ferraz
De acordo com o trabalho acadêmico Literatura de cordel no contexto roraimense, de Letícia Soares e Roberto Mibielli, o cordel começou a ser produzido em Roraima em 1992, com a história As Desventuras do Pobre, de Xarute. Mas a comercialização mesmo só teria começado por aqui em 2007.


Natural do Ceará, onde mora atualmente, quando vivia em Roraima, Xarute já foi até tema de documentário (Xarute – um olhar sobre o Cordel, dirigido por Cláudio Lavor e Márcio Sergino).

Entre os cordelistas de Roraima, podem ser citados também nomes como: Otaniel Mendes, Francelir Alves, Lindomar Bach, Aroldo Pinheiro, João Batista Fontenelle, Chiquinho Santos, Mestre Egídio, Ducarmo Souza, Evangelista Lima, Zanny Adairalba e Rodrigo de Oliveira. Abaixo, um pouco mais sobre alguns deles.

Otaniel Mendes

Maranhense, atualmente mora no Cantá (RR). Primeiro lugar na modalidade Interpretação, em 2006, em Roraima, no Concurso Sesi de Poesia (Conpoesi), é autor de cordéis como: A Vida de Cutião (2008) e Roraima Terra Bendita (2009).



Lindomar Bach
Artista visual e poeta, já lançou cerca de dez livros e divulgou seu trabalho em vários países da América latina, como a República Dominicana e o Haiti. Além de ter publicado Brasas Vivas, prepara o lançamento dos cordéis: Mecejana. Ontem, Hoje e Sempre; Nosso Lixo de Cada Dia; e Roraima! Terra que Amo. Essas três obras também serão ilustradas por Bach e publicadas no selo editorial Canto da Terra, criado pelo próprio escritor para lançar obras suas e de outros cordelistas.


Rodrigo de Oliveira 
Pernambucano, neto de poeta popular e irmão de cordelista, Rodrigo de Oliveira é professor de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Roraima (UERR), e estreou na literatura de cordel em 2008, em Roraima, com a história O Código Macunaíma – Encontro de Makunaima com Mário de Andrade (2008). É autor também de: O Inesquecível Monsenhor Lins (2008), Lavradeiro (2009), O ET de São João da Baliza (2009), O Encontro de Makunaima com Ajuricaba, Pelos Campos do Rio Branco (2010), O Encontro de Makunaima com o Trio Roraimeira (2010), Ao Nobre Evangelista, O Baile do Judeu, adaptado da obra de Inglês de Souza, e Cordel para Ensino de Botânica (2013). É autor do blog Ciência Cordel. Seus textos podem ser encontrados ainda no site Recanto das Letras.

Zanny Adairalba 
Pernambucana, Zanny Adairalba acumula em seu currículo diversos prêmios por suas criações poéticas e musicais. É autora da coleção de cordéis Bota pra Ler, com títulos como: Calango, o Almoço da Cerca; Eclipse, a Origem de Macunaima; Boa Vista, a Cidade que Nasceu de uma Paixão. No ano passado, foi a única de Roraima a ganhar o 5º Prêmio Culturas Populares, recebendo o título de mestra da cultura popular.


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Até mais!

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terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

A diáspora da literatura de Roraima

Hoje eles vivem em outros pedaços de chão, mas levam na sua produção literária o gene de quem por anos tocou com os próprios pés a Terra de Makunaima.

Conheça alguns poetas, escritores e ilustradores cujo talento orgulha Roraima, mesmo à distância.

Lívia Milanez


Piauiense de nascença e roraimense de criação, recebeu prêmios literários já na adolescência: em concursos de contos contados da então Escola Técnica Federal de Roraima (hoje IFRR) e do Governo do Estado. Aos 14 anos, ficou em 2º lugar nacional no Concurso Literário “Escreva uma Carta a Caminha”, do Jornal do Commercio, de Pernambuco.


Autora do canal A Grande Desova e homenageada em 2015 pelo trabalho com o blog Resenhas do Prêmio Sesc de Literatura, lançou recentemente, com outros autores, em Brasília, onde mora e trabalha como analista de Relações Internacionais, o livro ‘Novena Para Pecar em Paz’ (2017, Penalux), com o conto ‘Um Caule de Mogno’.
Francisco Alves

Maranhense de nascença e roraimense desde criança, Francisco Alves ganhou prêmio literário nacional ainda jovem (classificou-se entre os três melhores do Concurso Nacional de Poesia, edição Cruz e Souza, em 2004), além de ficar em 1º lugar no Concurso de Poesia (Conpoesi), do Sesi-RR.


Ainda em Roraima, publicou o livro Poemas a Meia Carne (2008) e recentemente, morando em Brasília, onde faz Doutorado em Literatura, lançou Poemas Urbanóides (2017, Letras e Versos) e Ruídos Noturnos & Poemas do Esquecimento Vivo (2017, Letras e Versos).


Cristino Wapichana

Músico, cineasta e escritor, Cristino Wapichana representou Roraima em 2006 no Festival de Música Cidade Canção (Femucic), em Maringá (PR). Natural de Boa Vista, Cristino já morou no Rio de Janeiro e atualmente vive em São Paulo.

Venceu em 2007 o 4° Concurso FNLIJ/UKA Tamoios de Textos de Escritores Indígenas e recebeu menção honrosa em 2014. Neste mesmo ano, foi agraciado com a Medalha da Paz, do Movimento União Cultural, que em 2015, também lhe concedeu o Prêmio Litteratudo Monteiro Lobato. Em 2008 e 2014, foi indicado ao Prêmio da Ordem do Mérito Cultural da Presidência da República.

Publicou os livros: A Onça e o Fogo (2009, Manole), Sapatos Trocados (2014, Paulinas), A Oncinha Lili (2014, Edebe) e A Boca da Noite (2016, Zit).

Sapatos Trocados recebeu em 2015 o selo altamente recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Em 2017, a mesma entidade premiou também a obra A Boca da Noite, como melhor livro para crianças. No mesmo ano, esta publicação ficou ainda em terceiro lugar na categoria melhor livro infantil do 59ª Prêmio Jabuti, o mais importante prêmio literário do Brasil. Além disso tudo, recentemente Cristino Wapichana foi o único brasileiro entre os dez melhores livros infantis de 2017 do prêmio Peter Pan, da Suécia, com A Boca da Noite. Além do idioma sueco, esta obra também ganhou versões em dinamarquês.


Ina Carolina

Nascida em Boa Vista, atualmente vive em São Paulo. É escritora e ilustradora. Em 2015, lançou o quadrinho independente Apneia.

Junto com outros autores, Ina ganhou em 2017 o Prêmio Jabuti, na categoria Infantil Digital, com o livro Kidsbook Itaú Criança (2016, Agência África). Na obra, ela fez ilustrações para a história O Cabelo da Menina, escrita por Fernanda Takai, vocalista da banda Pato Fu. O livro também tem como autores: Marcelo Rubens Paiva e Alexandre Rampazo, Luis Fernando Verissimo e Willian Santiago, Adriana Carranca e Brunna Mancuso, Antonio Prata e Caio Bucaretchi.


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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Livro de Cristino Wapichana é finalista de prêmio na Suécia

A versão em sueco de A Boca da Noite, de Cristino Wapichana, está entre os dez melhores livros infantis de 2017 do prêmio Peter Pan, da Suécia. Ilustrada por Graça Lima, A Boca da Noite é a única obra brasileira da lista.

O prêmio é concedido anualmente pelo IBBY (Conselho Internacional sobre Livros para Jovens), da Suécia, a um livro infantil ou juvenil de autor estrangeiro. Entre os dez escolhidos desta edição estão ainda: dois da China, dois do Canadá, um da Alemanha, um da Holanda e um da França.


O lançamento da versão em sueco de A Boca da Noite (Nattens Mun) foi na Feira do Livro, em Gotemburgo, no ano passado. A obra já havia sido incluída na lista de honra do IBBY, instituto que está presente em 60 países. 

A cada dois anos, o instituto sueco escolhe para entrar na lista a obra de um escritor, um tradutor e um ilustrador vivos. A entrega do certificado a Cristino Wapichana está prevista início de setembro, em Atenas.

A Boca da Noite ficou em terceiro lugar na categoria livro infantil do Prêmio Jabuti 2017.

Para ler resenhas de livros infantojuvenis de Roraima, acesse:

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Literatura em Roraima: fazer coletivo

A literatura em Roraima anda em coletivo. 
Para você, algumas dessas inciativas:


Inicialmente denominado Coletivo Arteliteratura Caimbé, decidiu parar de competir com a princesa Isabel e reduziu o nome para Coletivo Caimbé.

Sua primeira iniciativa foi uma intervenção cultural para comemorar o Dia Nacional da Poesia, em 14 de março de 2009, na Praça das Águas, Centro de Boa Vista (RR). Mais de cinco mil pessoas participaram das leituras e exposição de poesia, show musical e produção de textos.

É mais conhecido pelas diversas edições do Sarau da Lona Poética, um verdadeiro encontro de artes integradas. O Caimbé já levou ações de incentivo à leitura e à literatura a diversos bairros de Boa Vista, municípios de Roraima, comunidades indígenas e até outros Estados.

Atualmente, o coletivo é formado pelo casal Edgar Borges e Zanny Adairalba, além de parceiros. Modernex e nada ciumento esse casal... Tudo pela literatura!

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Máfia do Verso


Como toda máfia, seus integrantes são espertos e organizados. Trata-se de uma cooperativa de poetas cujos rendimentos com a publicação de um livro financia a obra do mafioso seguinte. Já lançaram cinco títulos, desde 2013, de Roberto Mibielli, Sony Ferseck, Eli Macuxi, Marcelo Perez e Devair Fiorotti.

Além das publicações, a Máfia do Verso atua na realização de encontros destinados à poesia e realiza trabalhos em escolas estaduais de Boa Vista, aonde leva livros e autores, com o objetivo de difundir a literatura local.

Sony Ferseck, Devair Fiorotti, Eli Macuxi e Marcelo Perez.
Só faltou o Roberto Mibielli!
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Coletivo de intervenção urbana em Boa Vista, que explora a poesia como forma de protesto e expressão, para levar arte às ruas da cidade.

Idealizado por Felipe Thiago e Hander Frank, com apoio de voluntários, o coletivo é conhecido pelos lambe-lambes, gana, paixão e muita criatividade!


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Galera da Prosa

Este é o grupo mais jovem dos quatro: nasceu em dezembro de 2016, com a proposta de discutir periodicamente um texto literário em elaboração (conto, crônica, trecho de romance, etc.) de autoria de um dos membros, escritores publicados ou não.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Receita no Verso, a mais antiga publicação literária periódica em atividade em Roraima

O fanzine ‘Receita no Verso’ é provavelmente a publicação literária periódica com mais tempo de vida em Roraima. Criado em 2012 pelo escritor e poeta Marcelo Perez, o fanzine publicou até agora mais de 300 textos, entre poemas, contos, crônicas e artes visuais. Nesses seis anos, além de textos do próprio Marcelo, foram cerca de 50 colaboradores, de Leminski a Bukowiski, de Eli Macuxi a Agda Santos.

Como ideia, Receita no Verso surgiu em uma oficina literária e se tornou projeto de estágio de Marcelo, na época estudante de graduação em Letras/Literatura da UFRR. Marcelo Perez é o editor, diagramador e designer da publicação, o que inclui recortar, desenhar e colar gravuras no papel. São cerca de 200 exemplares por edição, distribuídos gratuitamente.

O fanzine tem 8 páginas: é uma folha de papel A4 xerocada e dobrada em quatro partes. Mas, ainda que pequeno, não é um tipo de leitura possível de se fazer de uma hora para outra: é preciso ler várias vezes, degustando cada verso da receita.


Receita no Verso: edição de maio de 2012.
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Pela primeira vez, Roraima é finalista do mais importante prêmio da literatura brasileira
Gabriel Alencar: promessa literária que já começa a se cumprir

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Gabriel Alencar: promessa literária que já começa a se cumprir

Imagine receber dois prêmios no primeiro concurso literário em que se inscreveu. Imagine ainda, às vésperas de se inscrever, não ter um dos textos prontos e se ver obrigado a pesquisar na internet as características que um conto deve ter. Pare de imaginar: esse talento existe e se chama Gabriel Alencar, primeiro lugar na categoria Poesia e terceiro na categoria Conto, do Concurso Literário Aldenor Pimentel (2016), restrito a autores de Roraima.

Fonte: acervo pessoal (Gabriel Alencar)
Não para por aí: além disso, no ano seguinte, ele ficou em segundo lugar na categoria Conto do mesmo concurso, agora denominado Concurso Literário Internacional Palavradeiros. Dessa vez, só não voltou a ser premiado em Poesia porque, nesta edição, a categoria foi exclusiva para estudantes de ensino fundamental e médio de Roraima. Graduado em Relações Internacionais, atualmente, Gabriel cursa Mestrado em Sociedade e Fronteiras.

Gabriel Alencar era uma promessa. Mas, passado pouco mais de um ano de sua “revelação”, já mostra a que veio. Ficou em 10º lugar no III Concurso Cultural de Microcontos da Biblioteca do IFSP (Araraquara), categoria “Humor”, e teve vários contos e poemas publicados em sites literários.

Músico e escritor, aventura-se na ficção científica, fantasia, drama e humor. Aliás, seus textos dialogam como ninguém com a nova geração de um modo que nenhum dos renomados escritores do Estado conseguem. Se quiser, Gabriel Alencar será um grande nome da literatura de Roraima, para a nossa alegria!

Obs.: O conto Corrida Noturna e o poema Calo no Pé, de Gabriel Alencar, podem ser lidos na antologia do II Concurso Literário Internacional Palavradeiros, que pode ser baixada gratuitamente clicando aqui

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sábado, 3 de fevereiro de 2018

Resenha: Dicionário de Roraimês (Júnior Brasil)

Sabe quando você tem uma ideia que acha incrível, anota algumas coisas para encaminhar o projeto e, tempo depois, vem outra pessoa e faz? Pois é! Foi a sensação que tive em relação ao Dicionário de Roraimês, de Júnior Brasil, publicado em 2016, pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura.

Confesso: bem que queria ser o realizador desse projeto, mas não sou nem mesmo o primeiro a idealizá-lo. Foi assim: em 2007, conheci o Dicionário de Termos Populares do Acre, de Mauro Modesto, publicado no ano anterior. Mas, na época, Júnior Brasil já havia tido a ideia de escrever o Dicionário de Roraimês.

Isso mesmo! Segundo a apresentação deste livro, o autor roraimense teve o lampejo em 1993, quando conheceu o dicionário regional, em Salvador (BA). Aliás, quando eu soube que o projeto roraimense havia sido aprovado na Lei de Incentivo já fiquei feliz e torci desde ali para que saísse logo do papel, o que se deu anos depois.

Foto: site Eu Sou de Roraima
Com hilárias ilustrações de Kenedy, o dicionário traz expressões que são a nossa cara, com explicações e exemplos em tom coloquial, sem pretensões filológicas. Diversão garantida, conforme as expectativas reveladas pelo próprio autor, na apresentação da obra!
‘Maceta’, ‘caboco’, ‘carapanã’, ‘até o talo’ são algumas das palavras e expressões registradas e devidamente explicadas em Dicionário de Roraimês. Além disso, deparei-me com várias novidades, entre elas diversas e criativas formas de se referir às nossas “vergonhas” (como diria Caminha), masculinas e femininas.

O próprio Júnior Brasil informa também, na apresentação do livro, que muita coisa ficou de fora de sua “garimpagem”, que foi de suas lembranças às conversas ocasionais e “forçadas” com o “pessoal das antigas”, de acordo com ele mesmo. De fora, também ficaram “modismos de tribos urbanas”, como “Agora bem aí!”, e expressões usadas aqui, porém mais a cara de outras regiões, como Pai d’égua.


Dicionário de Roraimês precisava mesmo ser publicado. Concorda, parente?

BRASIL, Júnior. Dicionário de Roraimês. Boa Vista: Ioris, 2016.

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