segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Pela primeira vez, Roraima é finalista do mais importante prêmio da literatura brasileira

Foram dois escritores roraimenses indicados: Cristino Wapichana e Ina Carolina

Roraima recebeu duas indicações no 59º Prêmio Jabuti, ambas obras voltadas ao público infantil. Pelo que se tem notícia, esta é primeira vez que o Estado tem, ao menos, um finalista no prêmio considerado o mais importante da literatura brasileira.

O livro ‘A boca da noite’, de Cristino Wapichana, foi indicado na categoria Infantil. ‘Kidsbook Itaú Criança’, da também roraimense Ina Carolina, em coautoria com outros escritores, foi indicado na categoria Infantil Digital. Os demais autores de ‘Kidsbook Itaú Criança’ são: Marcelo Rubens Paiva e Alexandre Rampazo, Luis Fernando Verissimo e Willian Santiago, Fernanda Takai, Adriana Carranca e Brunna Mancuso, Antonio Prata e Caio Bucaretchi. Atualmente, Cristino Wapichana e Ina Carolina moram em São Paulo.

Até então, o único registro que se tem de Roraima no Prêmio Jabuti foi em 2015 com o livro acadêmico ‘Agricultura Conservacionista no Brasil’, segundo lugar na categoria Ciências da Natureza, Meio Ambiente e Matemática. Um dos artigos que compõe a obra é de autoria do professor e pesquisador da UFRR Valdinar Ferreira Melo. Entretanto, o professor não é considerado pelo prêmio como autor do livro, organizado por Luiz Fernando Carvalho Leite, Giovana Alcântara Maciel e Ademir Sérgio Ferreira de Araújo.

Cristino Wapichana e Ina Carolina.
Crédito: acervo Jaime Brasil Filho

Leia também:
O nascimento de um conto ou como pari ‘Teu Futuro te Condena’ 

Para ler resenhas de livros de outros autores de Roraima, acesse:  
Ode a Ana Maria é fantástico 
O Homem de Barlovento: um tesouro oculto 
Resenha: Daniel Sapeca e o Diamante Azul do Tepequém (Clotilho Filgueiras) 

Resenha: Rapadura é doce, mas não é mole (José Vilela)

domingo, 8 de outubro de 2017

O nascimento de um conto ou como pari ‘Teu Futuro te Condena’


Como vagas ideias literárias de um adolescente se transformaram, mais de quinze anos depois, em um conto publicado em antologia organizada pelo maior escritor brasileiro de terror da atualidade?

Antes de explicar, é bom esclarecer que este texto não tem a pretensão de funcionar como uma espécie de manual. Mas, se ajudar escritores iniciantes a escreverem melhor suas histórias, nada mal, hein!


‘Teu Futuro te Condena’ é um conto escrito ali por 2016. Cheguei a ele a partir de três ideias diferentes, algumas separadas das outras por mais de uma década.


Na minha adolescência, quando me sentia poeta, e não me aventurava pela prosa, propus a mim mesmo dois desafios literários: 1) escrever uma história em segunda pessoa; 2) e outra narrada no futuro.


Por quê? Queria fugir do mais do mesmo, depois de perceber que a esmagadora maioria das histórias são narradas em primeira ou terceira pessoa e no passado ou no presente.


Exemplo 1: “Quando ouvi detalhes das crueldades e derramamentos de sangue que indivíduos ou nações impunham uns aos outros, não pude conter meu sentimento de revolta.” (Frankenstein, de Mary Shelley). Primeira pessoa (eu). Passado.  


Exemplo 2: “Desce o menino a montanha, atravessa o mundo todo, chega ao grande rio, com as mãos recolhe quanta de água lá cabia, volta o mundo atravessar, pelo monte se arrasta, três gotas que lá chegaram, bebeu-as a flor com sede.” (A Maior Flor do Mundo, de José Saramago). Terceira pessoa (ele). Presente.


Voltando ao processo de construção de ‘Teu Futuro te Condena’, muito tempo depois, ali por 2015, 2016, veio a terceira ideia: uma história de profecia autorrealizável, em que o próprio ato de dizer quem alguém será o torna aquilo. Seria uma crítica ao modo como a sociedade lida com a criminalidade. Tenho um projeto de escrever uma antologia de contos sobre violência, segurança, encarceramento, etc., mas isso já é outra história.


Bem, decidi juntar as três ideias na mesma história: imaginei uma cigana, um oráculo ou algo do tipo lendo o futuro de um recém-nascido (“Tu serás um assassino”) e essa profecia faria com que todos o tratassem, desde sempre, como o assassino que a profecia dizia que ele se tornaria. Daí, nasceu ‘Teu Futuro te Condena’.


Que lições tirar disso? Planeje o que vai escrever. Não dependa só da inspiração. Anote e não descarte suas ideias só porque não consegue transformá-las em uma história de imediato. Retorne a elas, de tempos em tempos, para ver se consegue enxergá-las com outros olhos. Proponha-se desafios. Fuja do comum: busque escrever o que ninguém jamais disse ou diga de modo inovador aquilo já repetido tantas vezes. E depois, é só aproveitar as oportunidades que aparecem...


Ah, faltou dizer que não sou escritor de histórias sombrias. Então, para escrever ‘Teu Futuro te Condena’, precisei sair da minha zona de conforto. 

A Antologia Sombria, organizada por André Vianco, e que selecionou este e outros contos será lançado em São Paulo (SP), no dia 28 de outubro de 2017.  Para saber mais, clique aqui.

Até lá, você pode ler o trecho inicial do conto:


"— Serás um assassino — dir-te-ei, recém-nascido, quando teus pais te trouxerem até mim.

Lerei teu futuro, como o de todos os paridos naquela hedionda cidade, em uma porção do meu sangue. Descreverei em detalhes a teus genitores que, com um instrumento perfurocortante de fabricação caseira, vazarás os olhos de uma mulher de cabelos brancos e dela cortarás o pescoço. Ainda permanecerás ao seu lado, vendo-a sangrar em silêncio até a morte."




PIMENTEL, Aldenor. Teu futuro te condena. In: VIANCO, André. Antologia sombria. São Paulo: Empíreo, 2017. 

Para ler, outros textos literários de Aldenor Pimentel, clique aqui.

Para ler resenhas de livros de outros autores de Roraima, acesse: 

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Ode a Ana Maria é fantástico

Ode a Ana Maria (2016) é o primeiro romance de Simão Farias. Paraibano e morador de Roraima, o escritor tece uma história de aura nordestina e traços amazônicos, em que a protagonista se encontra com personagens como um coronel do sertão e um xamã.
Trata-se de um romance fantástico sobre conflitos por terra, em que estão em jogo, de um lado, interesses empresariais e, do outro, a vida de moradores de um humilde povoado e o equilíbrio do ecossistema.

Ao ler Ode a Ana Maria, é possível sentir o gosto da poeira a invadir os pulmões. A cada capítulo, o leitor tem a sensação de ser apresentado a um novo personagem, que parece vir com a missão de tirar as certezas que aquele construiu sobre a história até li. No final, fica a impressão de ter vivido um experimento para fazê-lo refletir sobre a vida.

Outras resenhas: 
Entre ‘O Mundo Perdido’ e Sherlock Holmes: um imenso abismo