(resenha
do livro ‘O Mundo Perdido’, de Arthur Conan Doyle)
Ver em uma obra de
ficção o lugar onde você vive é indescritível. Foi esse motivo que me fez ler o
clássico ‘O Mundo Perdido’, de Arthur Conan Doyle: a narrativa se passa, no
começo do século XX, no Monte Roraima, montanha que, além de eu já ter subido, fica
no Estado de Roraima, onde nasci.
A história não é ruim,
mas nela dois pontos me frustraram: 1) sei que Doyle poderia escrever história
bem melhor; 2) e há um tom eugênico, racista no discurso da obra.
Escrito em 1912, inspirado em relatos de terceiros sobre expedições à América do Sul, ‘O
Mundo Perdido’ logo se tornou um clássico mundial de ficção científica. Nele, um
grupo de exploradores ingleses faz uma expedição científica na Amazônia (Monte
Roraima), onde se deparam com criaturas pré-históricas, tribos de homens-macaco
e homens primitivos. É realmente fantástico!
Para quem não ligou o autor
ao personagem, Conan Doyle é criador de Sherlock Holmes, personagem mais
popular, inclusive, que o próprio escritor. ‘Um Estudo em Vermelho’, o primeiro
livro (de muitos!) em que aparece o mais conhecido detetive da ficção, é tão
fascinante que li em um único dia. Claro que não se pode exigir de um autor que
todas as suas produções sejam tão boas quanto sua obra-prima, mas também não se
pode exigir do público que não crie essa expectativa.
Bem, o outro motivo
para ter gostado menos de ‘O Mundo Perdido’ é o seu discurso eugênico. Na história,
narrada pelo ponto de vista eurocêntrico, leem-se os ingleses/europeus como raça
superior, civilizada, nobre por natureza, em oposição aos povos por eles encontrados
na América do Sul, que beiravam o estágio selvagem/animalesco. Em ‘O Mundo Perdido’,
personagem indígena nenhum passa de figurante. Sei que esse é o
discurso da época (inclusive, o científico), o que não é suficiente para me
deixar menos incomodado com o discurso.
Também procurava, mas não consegui ver em profundidade na obra a região que hoje é Roraima (o Estado). Fico me perguntando se fiz uma leitura rápida demais! Na obra, é fácil encontrar uma boa descrição: a) do porto e do encontro das águas dos rios Negro e Solimões, em Manaus; b) do Monte Roraima; c) e da paisagem entre a cidade amazônica e a montanha: o rio-mar e seus afluentes dentro da mata fechada.
Também procurava, mas não consegui ver em profundidade na obra a região que hoje é Roraima (o Estado). Fico me perguntando se fiz uma leitura rápida demais! Na obra, é fácil encontrar uma boa descrição: a) do porto e do encontro das águas dos rios Negro e Solimões, em Manaus; b) do Monte Roraima; c) e da paisagem entre a cidade amazônica e a montanha: o rio-mar e seus afluentes dentro da mata fechada.
Entretanto, exceto o
que se refere especificamente ao monte, lembro uma única e rápida descrição sobre
a vegetação que identifiquei como sendo de Roraima: em determinado momento, o
narrador fala de uma mudança brusca na paisagem, de floresta para uma vegetação
rasteira. Seria o que os roraimenses chamamos de lavrado (savana).
Apesar do relato acima,
deixo claro: não só não me arrependo da leitura, como a indico!
Até a próxima!
DOYLE, Arthur Conan. O mundo perdido. São Paulo: Círculo do Livro, 1989.
Em tempo: uma versão anterior deste post dizia que a inspiração de 'O Mundo Perdido' eram relatos do etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg. Entretanto, este esteve pela primeira primeira vez no norte do
Brasil (Amazonas e Roraima) e na Venezuela entre os anos de 1911 e 1913, e somente publicou a obra acadêmica ‘Do Roraima ao
Orinoco’ em 1917. A menos que Conan Doyle tivesse uma máquina do tempo, como no famoso romance de H. G. Wells, é pouco provável que Doyle tenha tido acesso ao livro de Koch-Grünberg, somente publicado anos depois do seu. Obrigado pelos esclarecimentos, Roberto Mibielli, professor de Letras da UFRR!
Leia também:
Nenhum comentário:
Postar um comentário