terça-feira, 28 de agosto de 2018

Entrevista com o escritor George Farias

George Farias é o convidado da segunda entrevista da série com escritores de Roraima. Ele começou a produzir literatura por pensar que a poesia seria um veículo para se manifestar, se comunicar e mostrar suas angústias e anseios. Nasceu no Ceará em 1963 e vive em Roraima desde 1989, onde voltou a estudar e resolveu morar. 

Como se deu seu contato com a leitura? 
A literatura me envolveu desde muito cedo, pois eu admirava quem escrevia e como escrevia. 

Que livros você mais gostou de ler na vida? De que gêneros, escolas literárias e temas você mais gosta? 
O livro que mais me chamou a atenção foi ‘Eram os deuses astronautas’, [de Erich Von Daniken], depois busquei outros e outros e outros, sem me preocupar com o gênero. 

Quais são suas influências artísticas? 
Minha maior influência é meu irmão, [Cacá Farias], que me incentivou à leitura e por ser um grande compositor. 

Que características desse autor estão presentes na sua produção? 
O fato de ser poesia. 

Como você avalia o cenário atual da literatura em Roraima? 
Minha visão diz que a literatura em Roraima está mais ativa, porém segmentada, visto que alguns escritores se acham. 

Que trabalhos literários roraimenses você mais admira? 
Admiro alguns trabalhos, mas mais a poesia. 

O que você diria sobre a nova geração de escritores de Roraima? 
Vejo em crescimento. 

Quais são seus objetivos, como escritor? 
Que meu trabalho seja lido, principalmente nas escolas. 

Quais os momentos mais marcantes da sua carreira? 
Mais marcante foi no dia em que vi meus livros sendo objetos de estudo de alunos do Mestrado da UERR. 

Como você caracteriza os textos que produz? 
Poema. 

Com é o seu processo de criação? 
Lendo e com muita calma, para que não seja qualquer nota. 

O que o inspira a escrever? Quais são seus temas mais recorrentes? 
O mar é meu principal tema, porém falo sobre muitos outros temas. 

O que você pode falar sobre os livros que você publicou? 
Publiquei dois livros e tenho um terceiro para publicar. Poemas que contam minha experiência em Roraima, porém sempre com um pé no mar. 

Quais são seus projetos futuros? 
Lançar meu terceiro livro e escrever mais. 

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terça-feira, 21 de agosto de 2018

Entrevista com a escritora Loretta Emiri

A partir de hoje, vamos fazer uma série de entrevistas com escritores e ilustradores de Roraima, o que inclui nascidos no Estado e aqueles que, em algum momento na vida, fizeram, das terras mais ao norte do Brasil, sua morada. 

Conheça Loretta Emiri, italiana de nascença, apelidada pelos yanomami de Horeto Mỳsi, que quer dizer algo como Andorinha Da-terra-de-cima. 


Apresentação 

Quando pequena, já dizia que queria me tornar escritora e que desejava trabalhar no chamado terceiro mundo. Ao alcançar a idade certa para fazer escolhas de vida, resolvi deixar a Itália e me mudar para a Amazônia brasileira, tendo certeza de que a convivência com os indígenas sugeriria assuntos importantes e originais que, num segundo momento, poderiam ser tratados pela escrita e transformados em literatura. Realizei meus sonhos infantis. Durante 18 anos, trabalhei com os índios brasileiros na defesa de seus direitos. Por mais de quatro anos morei no mato, vivendo entre os yanomami os anos mais felizes da minha vida. A reelaboração literária da privilegiada experiência feita me permite afirmar, hoje em dia, que estou dando continuidade à própria experiência. Minha escrita é a serviço da dignidade e dos direitos dos povos indígenas brasileiros, sem deixar de ser uma arte que melhora e enriquece minha própria vida. 


Como se deu seu contato com a leitura? Alguém a incentivou? 

Minha avó paterna, que era professora, e meu avô materno estavam sempre lendo alguma coisa. O primeiro livro de poemas que chegou às minhas mãos pertencia a esse meu tenro vovô. Desde menina, se alguém queria me fazer presentes, eu pedia que fossem livros. 


Quais são suas influências artísticas na escrita literária? Que características desses autores e obras estão presentes na sua produção? 

Autores come Grazia Deledda, Giovanni Verga, Luigi Pirandello, Cesare Pavese, Primo Levi, Beppe Fenoglio, Edgar Allan Poe, Hans Ruesch têm alimentado minha paixão pela leitura e pela escrita. Nos meus trabalhos, dou ênfase aos sentimentos, pensamentos, emoções dos personagens. Procuro ser muito sintética, direta. Utilizo até termos pouco usados, mas que remetem à minha experiência e bagagem cultural, pois é uma maneira de manter rica uma língua e manter vivos momentos específicos de histórias pessoais e da história em geral. 


Que trabalhos literários roraimenses você mais admira? 

Admiro muito o escritor Cristino Wapichana. Seus livros, suas performances, sua incansável atividade visam sensibilizar a opinião pública, especialmente as crianças, sobre valores e direitos dos povos indígenas. Ele já ganhou prêmios importantes, participou de feiras de livros no exterior, já se viu traduzido em outra língua

Uma obra que está fazendo a volta do mundo é aquela escrita pelo xamã yanomami Davi Kopenawa, coadjuvada pelo etnólogo Bruce Albert. Gravada em língua yanomami, impressa em francês, inglês, português e italiano, a obra, cujo título em português é ‘A queda do céu’, é uma verdadeira enciclopédia contendo informações sobre, vida, cultura, língua, mitologia, história, agressões, mortes e vitórias desse povo. 

Também admiro Zezé Maku (Miranda de Aquino) pela preocupação com a preservação da natureza; amos os poetas Eliakin Rufino e Beta Cruz (Roberta S. Cruz). 


Quais são seus objetivos, como escritora? 

Um amigo escreveu que os meus contos são de manutenção do espírito. Quando escrevo, é isso mesmo que acontece: faço higiene mental, reorganizo o caos interior, dou manutenção ao espírito. Naturalmente espero que essa atitude beneficie os leitores também. Além disso, com a escrita exprimo carinho e solidariedade para com os índios brasileiros, pois eles deram sentido à minha vida.  


Quais os momentos mais marcantes da sua carreira? 

Por ser mulher, sozinha, estrangeira trabalhando com os índios, fui marginalizada, discriminada, caluniada. Escrever poemas muito me ajudou a lidar com a solidão. Adolescente, tinha escrito poemas em italiano. Quando eles brotaram em português foi emocionante, gratificante, um momento muito marcante. A apresentação do meu livro ‘A passo di tartaruga – Storie di una latino-americana per scelta’, em 2017 entrou na programação oficial do Salão Internacional do Livro de Turim. Em janeiro de 2018, uma emissora nacional italiana pôs no ar uma entrevista em que fiz questão de contestar os estereótipos que circulam sobre os índios. Em maio de 2018, me foi conferido o Prêmio Especial à Carreira, durante a segunda edição do ‘Prêmio Nacional Novella Torregiani di Letteratura e Arti Figurative’, pela defesa dos direitos dos índios brasileiros. 


Como você caracteriza os textos que produz? 

Como já disse: meus escritos fornecem manutenção ao espírito, meu e dos leitores, espero. Dizer que são contos, e autobiográficos, nada acrescenta: o que eu considero estar escrevendo é simplesmente narrativa. 


Como é o seu processo de criação? 

Uma ideia, uma lembrança, um conceito, se instala na minha cabeça. Aí não tenho mais paz até elaborar o embrião pela escrita e transformá-lo em literatura. Antes de começar a escrever, o título já está prontinho, bem definido na minha cabeça. 


O que a inspira a escrever? Quais são seus temas mais recorrentes? 

A privilegiada experiência feita entre os índios brasileiros é à base da minha escrita. Idas e vindas entre passado e presente, entre Europa e América Latina, entre primeiro, terceiro e mundo dito primitivo, fazem com que atemporal seja o tempo nos meus textos. Gosto de mostrar como as mesmas situações são resolvidas pelos povos indígenas, considerados inferiores, ou pelos ocidentais que se consideram superiores, sem sê-los. Há apenas culturas, línguas e habitat diferentes; mais diversificados e preservados eles são, melhores condições de vida têm os homens. 


Que livros literários você já publicou? 

Poemas meus foram incluídos nas antologias ‘Poetas brasileiros de hoje – 1986’ (Shogun, 1986); ‘Antologia de poesias’ (Edicon, 1988); ‘Sociedade dos poetas vivos, v. 3’ (Blocos, 1993); ‘Expressões poéticas’ (SESC, 1993). Em 1992, pela Edicon de São Paulo publiquei o livro de poemas ‘Mulher entre três culturas – Ítalo-brasileira ‘educada’ pelos Yanomami’. 

Em italiano, escrevi os livros de contos ‘Amazzonia portatile’ (Manni Editore, 2003); ‘Quando le amazzoni diventano nonne’ (CPI/RR, 2011); ‘Amazzone in tempo reale’ (Andrea Livi Editore, 2013) (Prêmio Especial para Ensaios do “Premio Franz Kafka Italia – 2013”); ‘A passo di tartaruga – Storie di una latinoamericana per scelta’ (Collana Incroci, 2016). 


Quais são seus projetos futuros? 

Espero continuar escrevendo coisas que falem do valor da diversidade cultural, de diretos individuais e coletivos, dos povos indígenas brasileiros. Espero fazer isso até o último dia da minha vida. 


Onde suas produções podem ser encontradas? 

Textos meus aparecem em várias revistas, entra as quais: ‘I giorni e le notti’, ‘El ghibli’, ‘La macchina sognante’, ‘Fili d’aquilone’, ‘Sagarana’, ‘Euterpe’, ‘Pressenza’, ‘La bottega del Barbieri’. 







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