Confesso que cheguei a 'Ensaio sobre a cegueira' com receio de não gostar. Afinal, depois de me decepcionar com clássicos empolados, acreditava que a afamada pontuação peculiar de José Saramago seria demais para alguém como eu, que não está muito disposto, no momento, a leituras pouco ágeis.
Minha persistência valeu a pena: foi uma das minhas melhores leituras da década. Talvez a melhor. Saramago é muito bom. Não à toa é o único escritor de Língua Portuguesa a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura.
A premissa do livro, por si, só já é uma sacada incrível: e se ficássemos todos cegos? Aliás, Saramago é o mestre da alegoria. Dessa simples fabulação, o autor nos provoca a pensar a condição humana: até onde somos capazes de ir para sobreviver?
A história em si nem tem lá tantas cenas dignas de filmes de ação. Nem precisa: Saramago nos cativa com uma narrativa que faz o leitor querer sempre saber o que vem em seguida.
A história em si nem tem lá tantas cenas dignas de filmes de ação. Nem precisa: Saramago nos cativa com uma narrativa que faz o leitor querer sempre saber o que vem em seguida.
E entre uma cena e outra, o autor ainda nos brinda com ditados populares ou transgressões a eles. É fácil se sentir em casa, como que ouvindo nossos avós conversando na varanda.
E a tal pontuação peculiar de Saramago? Não tira a fluidez da leitura? Bem, de fato, uma hora aqui, outra ali, é difícil saber quem disse o quê. Com o tempo, o leitor se acostuma e esse efeito se ameniza. Na real, às vezes, nem faz tanta diferença pra história quem disse o quê. É como naquelas conversas de bar em que todo mundo fala ao mesmo tempo: ninguém é dono do que diz e todos são meio que (ir)responsáveis por tudo que é dito.
Próxima parada: do mesmo autor, O Evangelho segundo Jesus Cristo, se Deus quiser.
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