Olá, sou Clotilho Filgueiras, roraimense, escritor e advogado.
Nasci no então Território Federal de Roraima em 1974. Minha infância foi marcada por brincadeiras em um grande quintal da minha avó paterna, subindo em árvores, numa casa antiga na rua Coronel Mota, esquina com rua Rocha Leal, com cerquinha de pau rainha.
Iniciei a minha carreira de escritor em 2011, com a publicação do livro Nazareth Filgueiras contou-me sua história, pela Editora Biografia. Essa obra retrata a vida da minha avó paterna, trazendo vários relatos de fatos importantes da cidade de Boa Vista testemunhados por ela própria.
Mas eu queria mesmo era escrever para crianças. Daí, percebi que existia pouca literatura roraimense voltada para o público infantojuvenil. Foi então que, inspirado nos costumes, lendas, culinária e riquezas naturais de Roraima, decidi publicar o primeiro volume de uma série infantojuvenil, o livro Daniel Sapeca e o Diamante Azul do Tepequém.
Como se deu seu contato com a leitura?
Foi em uma pequena biblioteca da Escola Costa e Silva, quando ainda cursava a 2ª série primária.
Alguém o incentivou?
Eu tive o privilégio de ter excelentes professores de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental, os quais incentivavam a leitura, a interpretação de textos e redação. E, ressalte-se, todos eram de escolas públicas de Boa Vista, na década de 1980.
Que livros você mais gostou de ler na vida?
Reinações de Narizinho, Emília no País da Gramática, entres outros de Monteiro Lobato; a Bolsa Amarela e O Sofá Estampado, de Lygia Bojunga; e a inesquecível série Vagalume. Li quase todos.
De que gêneros, escolas literárias e temas você mais gosta?
Admiro muita a escola modernista, porque foi um marco da valorização da riqueza cultural brasileira.
Procuro discorrer em meus textos sobre o sentimento da criança, crítica social, consciência ambiental e a exaltação à cultura roraimense.
Amo Roraima e, por isso, minhas histórias sempre são ambientadas em diferentes locais dessa linda terra.
Quais são suas influências literárias? Que características desses autores e obras estão presentes na sua produção?
Procuro seguir o estilo de Monteiro Lobato e Lygia Bojunga.
Monteiro Lobato valoriza no Sitio do Picapau Amarelo as lendas e costumes do Brasil. Sua literatura é paradidática, onde se aprende um pouco de Gramática, Matemática e até Geografia, enquanto Lygia Bojunga nos inspira a refletir sobre crítica social e os sentimentos das crianças.
Como você avalia o cenário atual da literatura em Roraima?
Apesar do surgimento de novos talentos e escritores locais tendo destaque em concursos nacionais e internacionais, ainda falta a devida valorização e apoio do Estado e do Município, não somente aos escritores, mas o incentivo ao crescimento da literatura roraimense.
Que trabalhos literários roraimenses você mais admira?
O seu Aldenor, o Livrinho da Silva, e os poemas de Zezé Maku. Admiro também os poemas da Zany Adairalba.
O que você diria sobre a nova geração de escritores de Roraima?
Não desistam nunca. Escrever é um legado para poucos.
Quais são seus objetivos, como escritor?
Continuar publicando a minha série Daniel Sapeca. O segundo volume já está na editora e o terceiro estou finalizando. Tenho ainda outros projetos em mente para divulgação e apoio aos escritores locais.
Quais os momentos mais marcantes da sua carreira?
O lançamento do volume 1 do Daniel Sapeca em Boa Vista. Tive um apoio caloroso da mídia local.
Mas um fato me marcou profundamente: foi na ocasião de uma tarde de autógrafos e contação de histórias, numa escola municipal do Bonfim. Eu tinha levado alguns livros para distribuir e/ou sortear para os alunos, e, ao final do evento, um menino veio, chorando, me pedindo um livro, porque ele não havia sido sorteado. E, claro, eu o presenteei com um livro. Isso me trouxe a reflexão de que as crianças de escolas públicas ainda clamam por cultura.
Como você caracteriza os seus textos?
São sempre escritos na primeira pessoa do personagem principal, o Daniel Sapeca, um menino de nove anos. Assim, os fatos e emoções são transmitidos sempre sob a perspectiva da criança.
Ao serem ambientados em Roraima, alguns personagens das lendas indígenas interagem com os meus personagens, exaltando certos costumes, a culinária e seus vocabulários típicos, na tentativa de despertar no leitor o conhecimento da cultura, do patrimônio histórico, das riquezas naturais e geografia roraimense.
Com é o seu processo de criação?
Eu costumo criar um problema a ser resolvido. Daí, eu traço uma espécie de roteiro e cronograma que vai me servir de guia do início ao fim da obra. Mas, no decorrer da escrita, não necessariamente esse roteiro será seguido: quase sempre é alterado por minhas sucessivas revisões.
O que o inspira a escrever? Quais são seus temas mais recorrentes?
O sentimento da criança aos problemas da vida. Assim como um adulto, elas também expressam emoções, críticas e opiniões.
A nossa vasta riqueza cultural roraimense em muito contribui ao universo das minhas histórias.
Fale sobre os livros que você publicou.
Nazareth Filgueiras contou-me sua história: retrata a biografia de uma das mulheres mais corajosas de Roraima, à frente de seu tempo. Ela testemunhou o primeiro avião a pousar em Boa Vista, conheceu pessoalmente o Marechal Rondon, ajudou a construir a Igreja São Sebastião e fundou o bairro São Francisco. Um de seus filhos foi o primeiro empresário a comercializar as primeiras televisões em Boa Vista. Enfim, é um testemunho da história de Boa Vista, misturada com a saga de uma tradicional família roraimense.
Quais são seus projetos futuros?
Em 2020, pretendo publicar o volume 2 da série Daniel Sapeca, cujo título será Daniel Sapeca e o Patrimônio Histórico de Boa Vista.
Após continuar publicando a série, pretendo ainda criar um espaço em Boa Vista para reunir os escritores, inspirados nos que existem em São Paulo e Buenos Aires.
Há muito ainda a ser explorado pela literatura sobre o universo cultural roraimense. Assim, pretendo de forma lúdica e divertida continuar escrevendo para as nossas crianças.
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